domingo, 17 de abril de 2011

Urbanismos VI

São Paulo, cruzamento da Pedro de Toledo com a Machado Bittencourt, cerca de 23h.

Uma esquina.
Amarrado a um poste, um reboque.
E ao lado, guardando o equipamento, um ser humano. A foto foi um impulso inevitável.

Tem coisas que só o capital faz por você!

"O trabalho enobrece e qualifica o cidadão", já dizia minha professora de Educação Moral e Cívica na quarta série (vulgo E.M.C.). Simples assim. Minha geração cresceu nutrida pela grossa fatia ideológica servida pela escola, pela mídia, pela igreja e pelos pais, estes tão vítimas da alienação quanto nós.

Esta frase também era estrofe de uma música contida um um antigo LP da Patotinha, um grupo musical infantil do início dos anos 80, ícone das crianças da minha geração numa época pré-Xuxa, Angélica e genéricas afins. Eu, meu irmão do meio e até minha mãe adorávamos esse vinil:

"Todo dia de manhã bem cedinho/

O papai sai pra trabalhar/

Que orgulho eu sinto do meu papaizinho/

Que não deixa para nós nada faltar/

Ele sempre diz pra gente que o trabalho/

Enobrece qualifica o cidadão./

Quem trabalha, ou estuda/

Só ajuda no progresso da nação..."
(Salve o trabalhador/Arthur Moreira)

Naquela época, com sete anos e a pecha de ler indistintamente tudo que me aparecia, eu acreditava na minha vaga noção de democracia, estado e igualdade de direitos. Acreditava, sem perceber as contradições, que a meta final do sistema educacional era o trabalho, e que o trabalho, tal qual uma mágica força viva, se imporia como um pilares centrais da vida de todos os homens. Os valores positivistas da sociedade patriarcal judáico-cristã nos eram entregues de bandeja, sem questionamento e com o melhor dos sorrisos, como bons soldadinhos, focando a formação da boa e dócil mão-de-obra que azeita as engrenagens do sistema e se borra toda pela manutenção da ordem. Enfim, dentro do capital, felicidade é um estado de ignorância. Mas como dizia um ex-preceptor e bom amigo , as pessoas mais felizes são as que melhor escolhem as suas ilusões.

Procura-se um vinil
Lembrar da Patotinha me rendeu alguns minutos de boas lembranças enterradas. Qualquer dia ainda vão sintetizar isso em laboratório, colocar em pílulas e vender a algum preço inacessível. E após a digestão de nossas memórias, o sistema arrotará em nossas caras que até nossa nostalgia pode ser reduzida ao fetiche da mercadoria.

Propaganda ideológica para crianças é uma das faces mais pavorosas do capital; tudo pode ser maquiado como lúdico quando ainda nos falta crítica e compreensão. Mas se você nunca ouviu falar em E.M.C. ou sequer em O.S.P.B. (Organização Social e Política do Brasil, cof-cof-cof...), muito menos vai lembrar da Patotinha. Procurei a música pra postar aqui, achei que escapava à memória do Google... mas por incrível que pareça, estava lá. Segue no fim do post.

E pensar que esse carretel de pensamentos começou com um senhor dormindo no chão em uma esquina. Será que eu tenho que procurar o que fazer ou já estou fazendo? Melhor parar de fazer pergunta difícil...



E aqui, pra saudosistas e curiosos, o álbum completo: http://www.sendspace.com/file/8c870y

7 comentários:

  1. Acho que a Patotinha não é do meu tempo. A música parece uma marchinha militar.

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  2. Bota aí um link para repassarmos os seus posts ao Facebook!

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  3. Comentários sem assinatura são sinistros... :)
    Não sei como é que faz esse negócio do link, nunca tive facebook, mas deixa eu ver se nas configurações do Blogspot explica isso.

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  4. É Tadeu....só tu p me deixar c nostalgia affe!
    Bjo coisa Chata.

    Queila.

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  5. Se bem q...eu nunca escutei a Patotinha...mas deu nostalgia do mesmo jeito credo!!!

    Queila.

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  6. Em tempos de facebook...

    Curti!

    Hehehehehe. Abraço!

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  7. Pronto, agora tamos no tal no Facebook (só o blog, eu não!)
    :)

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