terça-feira, 27 de dezembro de 2005

# Manifesto de Ano Novo #

Mood:  on fire


Escrevi esse texto no final de 2004 e enviei como "votos" de ano novo... depois de me saturar com várias mensagens de natal impregnadas de boas intenções e sua irônica retórica cristã, que eu me esforço pra escapar no final de dezembro, mas não tem como. 

Cada um vive numa realidade como a compreende, e cada um é livre para acreditar que vive num mundo onde ninguém explora ninguém, todo mundo tem acesso ao essencial e tudo vai mudar por decreto, se todos simplesmente aceitarem reproduzir a vida assim como a recebem... "Acredite nos seus sonhos", "tudo é divino, tudo é maravilhoso" e tomara que você encontre o palito premiado... (no dia que eu descobrir que planeta é esse, eu me mudo!)

Fato concreto e que as coisas não "brotam", não surgem por milagre nem se materializam no vácuo, como coisa oculta que esperava a hora de ser revelada, e aquilo que você não constrói, você não vive. Mas por enquanto, do pouco que as coisas mudam, aqui vai ele de novo:

Enfim... sejam felizes!

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Só pra constar, a foto veio desse blog.
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As coisas são assim:

A gente nasce, a gente cresce,

A gente soluça

A gente aprende a fingir de morto

e esperar,

Porque Deus é bom

E por achar que vai pro céu, a gente acha que é feliz

A gente mente

E se apressa pra dormir a noite

Porque as coisas são assim.

/

Porque as coisas são assim, a gente aprende

Que para a carga se fez o dorso,

Para a labuta, nossos membros

A gente envelhece em cima do muro

E essencialmente, não sabemos

Que não somos como somos

/

Porque as pessoas passam,

A gente aprende a dizer adeus

E aceita como fato, na atmosfera oca da labuta

Estarmos, enfim,

sós.

E aprende, então, a esquecer

Que um dia, ninguém vai lembrar

Que a gente também passou por aqui.

E porque as coisas são assim,

As coisas não são.

/

A gente aprende, ainda, que isso é democracia

A gente aprende que tem valor

E então vai servir a pátria

E a gente corre, porque eles querem

Que a gente ganhe dinheiro

Eles querem

Que você se venda pra Unimed

Eles querem

Que se renda pro Roberto Marinho,

Que vá trabalhar na usina

Nas salas de aula do COC

Na barra da saia do meritíssimo

Ou vá lavar as cuecas, enfim,

Do senador, do deputado, do ministro

Do chefe da repartição

Da boca de outro gargalo!

/


E porque eles querem falar,

Eles querem que você dobre a língua

Que você monte uma ONG

Que vá disputar por dentro

E ajude a trocar o óleo

que corre por dentro da maquina,

Eles querem que você se adeque,

Eles querem que você sirva

/

E todos raspando o tacho

Do fundo do mesmo poço,

Porque as coisas são assim.


E porque assim elas são,

Eles sabem, a favas contadas...

ÀS FAVAS O QUE ELES SABEM!

Feliz Ano Novo! E VAMOS À LUTA!


(Maceio, Dez/2005)
(Tadeu Brandão)
((###ENTREOSDENTES###))

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3 comentários:

  1. Comments do post original:

    Friday, 30/12/2005 - 00:13 BRT
    Name: Lucas F

    Eu lembro! :)
    Corrija no final, vc pos Dez/2006

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  2. Thursday, 02/02/2006 - 21:30 BRT
    Name: Carla Leandro
    Home Page: http://www.kitblog.net/CarlaLeandro/

    Além de tocar o coração dessa simples garota com vinte e poucos anos, esse texto me lembrou uma coisa.
    Há pouco tempo ouvi uma voz do fundo do poço dizendo assim: você tem que aceitar as coisas como elas são.
    Podia ser o meu pai, mas era um garoto de vinte e poucos anos, que dizia outras coisas a poucos anos atrás, com barriga na pia pra lavar as cuecas dos outros. Enquanto outros lavam as dele.
    Que merda, falei. As coisas não tem que ser assim. Pelo menos não dobrempos a lingua. E vivamos!

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  3. Corrigido, Lucas, valeu!

    Legal ver que há cinco anos atrás você já estava aqui, Carlinha! :) Cuidei de atualizar o link pro seu blog atual, mas sem mudar o texto original. Interessante é que eu lembro que "conheci" você quando passei os olhos por acaso em um post de uma comunidade do Orkut "Quero ser excomungado", do seu antigo profile. Poxa, fui looonge! Abração!

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