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Clichê paulistano (que maldade, um clichê desses eu também queria!) |
Nosso confesso desamor se fez expresso e tão primordial quanto minha presença aqui. Gostei dos cinemas, dos cafés, da generosa quantidade de alfarrábios e cursos que nunca chegariam a Maceió. Mas detestei me habituar a ficar no vácuo após dar bom dia, ao baixo esforço social dos nativos com desconhecidos, a ver pessoas sozinhas mudarem o lado da rua se vêem um estranho no lado oposto. Realmente, eles devem ter que tomar muito cuidado com eles mesmos. Uma colega que já mora aqui há bem mais tempo me comentou, entre risos, que o paulistano costuma ser educado em duas ocasiões: quando quer lhe vender alguma coisa ou quando quer lhe pedir alguma coisa.
"- Foi a impressão que tive assim que cheguei aqui".
"- Então depois mudou?"
"- Não, me acostumei."
De início achei que fosse rejeição ao sotaque ou mesmo um justificado medo de assalto, até perceber que aqui coisas assim vão no automático, paulistanos com paulistanos, cariocas, coreanos, libaneses, chineses... e todos uns contra os outros. Eu não saberia viver em um lugar onde, por "n" motivos, uma pessoa se condiciona a esperar pelo pior vindo de seu semelhante. Por razões inversas, felizmente é possível identificar quando aqui se está lidando com mineiros ou nordestinos, que cá estão em quantidade. Uns ficam, outros voltam, mas nesta leva minha vez ainda não chegou.
Foto: Lucia Sekijima (fragmento), sobre obra da gaúcha Regina Silveira, atualmente exposta na fachada do MASP. E abaixo, inevitavelmente, Tom Zé, na primeira faixa de seu primeiro álbum, com a mais intestina das descrições de São Paulo.
São São Paulo (1968)